Éo fim de uma era que há muito era esperado. Sérgio Conceição desvinculou-se do FC Porto na noite de segunda-feira, colocando um ponto final a sete anos de ligação aos portistas. Mas não foi um adeus fácil de um treinador que muitos títulos deu ao clube do coração ao longo desta extensa ligação.
Tudo começou naquela noite de 27 de abril. A eleição de André Villas-Boas como novo presidente do FC Porto deu a entender que haveria uma mudança de rumo na equipa principal. E nem a renovação de contrato até junho de 2028 e que foi assinada dois dias antes do ato eleitoral fez mudar o que acabou por ser uma realidade esta segunda-feira.
Villas-Boas tomou posse no clube 10 dias depois das eleições e de lá para cá muito se escreveu. O FC Porto não foi além do terceiro lugar na I Liga, mas, ainda com Pinto da Costa a liderar a SAD Portista, Conceição guiou os portistas até à conquista da Taça de Portugal pela quarta vez nas últimas cinco edições, e terceira consecutiva, graças à vitória perante o recém-campeão Sporting (2-1, após prolongamento).
Vitória na Taça acelerou saída
Até ao jogo no Jamor, nada aconteceu no que toca à definição do futuro do recordista de jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) no banco portista. A concentração na conquista da Taça de Portugal, que foi alcançada, justificou este hiato. Mas de lá para cá seguiu-se um corrupio de situações que acabou por redundar na saída de Sérgio Conceição.
A 28 de maio, André Villas-Boas tomou posse como presidente da SAD do FC Porto e desde essa data que pôde, finalmente, começar a desenhar o que queria para o comando técnico da equipa principal daí para a frente. Neste mesmo dia, Conceição deslocou-se até ao Olival para elaborar o relatório da época, apontado o que correu bem e o que correu mal, ao mesmo tempo que analisou o rendimento de todos os jogadores que fazem parte do plantel.
No meio deste ‘limbo’ no que ao futuro de Conceição dizia respeito, em França cresciam os rumores que associavam o treinador português a uma mudança para o Marseille, mas nada avançava porque faltava a tal reunião entre Villas-Boas e o treinador.
Vítor Bruno: Do Qatar… à proposta para ser treinador do FC Porto
O encontro entre o presidente e o ainda treinador do FC Porto aconteceu na casa de André Villas-Boas e foi lá que Conceição descobriu o que não queria: que o seu braço-direito Vítor Bruno estava na lista para ser o seu sucessor nos azuis e brancos. Há 13 anos adjunto de Conceição, o treinador de 41 anos tinha dito a Sérgio Conceição, durante o jantar de final de temporada, que queria deixar de estar na sua sombra e tinha uma proposta para assumir uma equipa principal no Qatar.
Nesta altura, o ainda treinador do FC Porto ainda não tinha reunido com Villas-Boas e foi para o encontro com a ideia de que Vítor Bruno, a quem tinha desejado boa sorte, ia rumar ao Médio Oriente. Quando o líder dos azuis e brancos lhe revela que o seu eterno adjunto pode suceder-lhe, o conimbricense abandonou o jantar. Conceição sentia-se traído pela falta de frontalidade denotada por Vítor Bruno, neste aspeto, dado o sentimento de lealdade que sempre reinou entre ambos.
Esta traição rapidamente foi condenada por adjuntos de Sérgio Conceição. A ‘guerra’ deixou Vítor Bruno totalmente isolado, uma vez que os restantes preparadores, Siramana Dembélé, Diamantino Figueiredo, Eduardo Oliveira, Vedran Runje, mantiveram-se ao lado de Sérgio Conceição e alguns deles foram para a imprensa falar sobre esta quebra de confiança. Sem meias medidas, o FC Porto informou que poderá avançar com processos disciplinares dirigidos aos elementos da equipa técnica.
No meio de toda este clima de tensão e polémica, Vítor Bruno veio a terreiro para dar a sua versão dos factos e lamentar a “campanha orquestrada” para “assassinar” o seu carácter e bom nome. O técnico, de 41 anos, assegurou que nunca “apunhalou pelas costas” Sérgio Conceição, com quem, garantiu, usou “sempre da maior lisura, transparência e honestidade”, classificando a “narrativa” de “totalmente falsa”.
Casamento recheado de acusações no seu desfecho
Depois dos adjuntos, foi a vez da família condenar a atitude de Vítor Bruno. Primeiro foi a mulher Liliana Conceição a acusar o antigo braço-direito de se ter deixado levar pela “ganância” e “fome de poder”. Seguiram-se mensagens dos filhos Rodrigo e Moisés que apontaram o dedo à ingratidão do treinador-adjunto. E até Francisco Conceição deixou uma imagem sugestiva nas redes sociais.
Em pleno período de férias para o técnico, o dossiê de saída de Sérgio Conceição ganhou contornos decisivos nas últimas horas. Segunda-feira era dia de reunião entre os advogados do FC Porto e do conimbricense, que se encontrava a descansar no Algarve. E depois de largas horas de reunião, eis que o casamento de sete anos chegou ao fim, mas sem um tempero de polémica no desfecho.
Sérgio Conceição emitiu um comunicado a dar conta da rescisão de contrato com os dragões, após uma ligação de sete temporadas. Assumindo estar “desgastado e desiludido”, o treinador de 49 anos garantiu que virá a público “em breve” para “contar a verdade” sobre toda a história que conduziu à rescisão de contrato
“Não será uma quebra de valores e traição de outros que me farão pôr em causa os meus próprios valores e a minha palavra. Tal como prometi, saio do Futebol Clube do Porto com a mesma dignidade com que entrei. Não foi por dinheiro que vim para cá, e não é com dinheiro que quero sair”, assumiu Sérgio Conceição.
Seis dias depois da investidura de André Villas-Boas na SAD, fecha-se um ciclo de sete anos de Sérgio Conceição no FC Porto e que se encerra com a conquista de 11 troféus (três campeonatos, quatro Taças de Portugal, três Supertaças e uma Taça da Liga), precisamente após a saída de Pinto da Costa da presidência.
Conceição continuará ligado ao FC Porto até ao dia 30 de junho, tal como explicaram os azuis e brancos à CMVM, mas o caminho está agora aberto para que Vítor Bruno, se assim Villas-Boas o entender, assuma o comando técnico da equipa principal e inicie a preparação da temporada 2024/25.