Deyverson concedeu uma longa entrevista ao Globo Esporte, publicada esta sexta-feira, a dar conta não só do atual sucesso no Brasileirão, como do percurso trilhado desde a juventude, com especial destaque para uma passagem pelo Benfica, ao serviço da equipa B, onde viveu momentos altos… e baixos.
“Na minha cabeça, na altura, só pensava ‘eu vou para o Benfica’, mas não era para o Benfica B. Pensei que era para junto de Pablo Aimar, Enzo Perez, Luisão, Maxi Rodriguez, Alan Kardec… Cheguei lá e estava tudo vazio no aeroporto. Aquele cri, cri, cri cri… Na equipa B tinha João Cancelo, André Gomes, Bernardo Silva, Miguel Rosa, Ivan Cavaleiro, todos hoje estão a jogar na Premier League. E eu lá no meio pensava: ‘o que é que estou a fazer aqui?'”, começou por recordar a época 2012/13, em que apontou oito golos em 29 jogos.
“No último dia de testes fiquei no banco num amigável. Faltavam 10 minutos para acabar o treino e o técnico chama-me. Entrei, acabou o jogo com 20, com dois golos do ‘pai’ em praticamente nove minutos. Foi um de cabeça, até de peixinho. E outra a bola sobrou para mim e eu só chapei. Aí o treinador chamou-me, disse que estava muito feliz com o meu desempenho, e queria muito contar comigo. Fiquei todo feliz, a chorar, abracei-o, não tinha nem intimidade. Cinco anos de contrato, um salário mínimo, na época era 1.200 euros. Liguei para a minha mãe, todo feliz, emocionado, ao gritar ‘passei, passei’. Ninguém acreditou, foi um choque”, comentou de seguida.
As dificuldades financeiras nos primeiros tempos em Portugal foram uma realidade incontornável para o avançado brasileiro, que enalteceu a importância da esposa Karina na sua vida, mas só depois de ter passado por um período em que o jogador apenas “queria beber, curtir e dançar”, nos seus 20/21 anos.
“Sucesso? Se eu tivesse conhecido a minha esposa antes, acho que teria trilhado caminho mais brilhante. Acho que não tinha uma pessoa ao meu lado que me orientasse a fazer as coisas da forma que devia acontecer. Só queria beber, curtir, dançar… O meu empresário já me disse que se eu não tivesse feito as coisas que eu fiz estaria na seleção há muito tempo. Surgiu o interesse da seleção, há um tempo atrás, só que eu estava na fase de viver a vida, levar cartão vermelho e gerar polémicas”, lamentou Deyverson, que ainda jogou no Belenenses, deixando um conselho aos mais jovens.
“Eu gostava de beber a minha cervejinha, de me sentar no portão e ficar a beber. De ficar a ouvir sertanejo. Se eu puder dar um conselho aos jovens é que não o façam. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, eu não o faria. Estaria bem melhor hoje. Eu não estou a questionar quem bebe, quem deixa de beber. Estou a dizer o que vivi. Para ser profissional de alto nível temos de rejeitar muitas coisas. É difícil, o mundo proporciona coisas muito boas e nós abdicamos”, completou o avançado de 33 anos.